O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, reduzir a Selic, a taxa básica de juros, em 0,50 ponto porcentual, de 5,50% para 5% ao ano. Esse é o terceiro corte no atual ciclo. Com isso, a Selic está agora em novo piso da série histórica do Copom, desde 1999, quando começou o regime de metas para inflação.
Diz o comunicado do Copom: “Indicadores de atividade econômica divulgados desde a reunião anterior reforçam a continuidade do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa recuperação ocorrerá em ritmo gradual. No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem. O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”.
Segundo a autoridade monetária, as expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,3%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente. No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,4% para 2019, 3,6% para 2020 e 3,5% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,5% ao ano e deve permanecer nesse patamar ao longo de 2020 e se eleva até 6,38% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$ 4/US$, permanece nesse patamar ao longo de 2020 e encerra 2021 a R$3,95/US$.
O comitê ressaltou que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. “Por um lado, a combinação do nível de ociosidade elevado e da potencial propagação da inflação corrente, por mecanismos inerciais, pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco se intensifica no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes ou eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.
O Copom reiterou que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural e avaliou que “o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.
Repercussão
A projeção do Grupo Consultivo Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) é de que feche o ano em 4,5%. “Há espaço para que o ciclo de redução de juros seja mantido diante do balanço favorável para a inflação neste ano”, afirmou Fernando Honorato, coordenador do Grupo. Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os economistas reduziram as projeções de 2019 de 3,5% para 3,3% em 2019, e de 3,8% para 3,6% em 2020. Os percentuais estão abaixo das metas estabelecidas para esses períodos, de 4,25% e 4%, respectivamente.
Conforme a consultoria Rosenberg Associados, além da continuidade do ajuste do grau de estímulo monetário, levando a taxa de juros ao menor nível da história, o Copom sinaliza que o ritmo de corte de 0,5 p.p. será mantido na reunião de dezembro. Reforçam essa expectativa, segundo a consultoria, “a aprovação da reforma previdenciária pelo plenário do Senado, os indicadores recentes da inflação corrente, que continuaram a vir algo abaixo das expectativas de mercado, a consequente redução adicional das projeções de mercado para a inflação de 2020 e a descompressão cambial observada nas últimas semanas, na esteira do refluxo de tensões no ambiente internacional”.
“Os desenvolvimentos recentes sugerem que há espaço para que o Banco Central estenda o ciclo de flexibilização monetária para o ano que vem, em que pesem a persistência de incertezas no ambiente externo e a propensão do governo Bolsonaro a produzir atritos políticos”, avaliou a Rosenberg.
De acordo com o superintendente de assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, a frágil recuperação econômica, aliada ao comportamento corrente da inflação, proporciona a ancoragem das expectativas inflacionárias, conferindo espaço para novos estímulos monetários. “Apesar dos riscos associados à elevação dos prêmios dos ativos com impactos na trajetória do câmbio, o repasse para os preços tem sido baixo, corroborando a opção de queda da Selic e favorecendo a convergência da inflação à meta de 2020.”
Gonçalves explicou ainda que, com a debilidade fiscal restringindo os investimentos do governo e a desaceleração sincronizada do comércio mundial, “restam os estímulos monetários para impulsionar a atividade”. Inúmeros fatores, como guerra comercial, questões políticas nos Estados Unidos, impasse na resolução do Brexit e as tensões geopolíticas, impactam negativamente a confiança, alimentando o temor recessivo, na opinião do superintendente da ABCC. “Indicadores recentes sugerem que a economia manteve o ritmo de crescimento moderado nesse terceiro trimestre do ano. Assim, se elevar o ritmo da média dos últimos trimestres (0,2%) para 0,4%, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 0,9% neste ano”, estimou
Fonte: Correio Braziliense